LETRAS DO TREM - AS MÚSICAS DO TREM DA ALEGRIA - DISCOGRAFIA COMENTADA DISCO POR DISCO, LETRA POR LETRA

A razão do sucesso

entrevista concedida pelo blogueiro ao estudante de jornalismo Filipe Carvalho Prado, de Dourados-MS.

Porque você gosta do Trem da Alegria?

Não só neles, mas também em outros grupos infantis da década de 1980.
Sou um nostálgico por natureza, o que me faz possuir uma série de interesses por diversos assuntos de épocas passadas, à vida cotidiana, os produtos, anúncios, músicas, programas de TV, futebol, enfim. Não apenas aquilo que compôs a minha infância, como também os mais antigos. Quanto ao Trem da Alegria, claro que a questão da infância pesa muito mais. Porém, considero a música do Trem da Alegria a de maior qualidade dentre os grupos infantis, artística e tecnicamente e também quanto às letras e as mensagens passadas através das cançóes.

Como foi este boom de grupos infantis na década de 1980?

Até os anos 80, a música infantil se compunha basicamente por adultos cantando para crianças, em tom professoral ou pretensamente didático. Mesmo as músicas de Palhaços, como o Carequinha, procuravam trazer lições de moral, boas maneiras e respeito aos pais. Mesmo as crianças que cantavam não cantavam para crianças, mas para agradar o paladar dos adultos. Precisavam se adequar a um padrão esperado, meio rígido, meio formal, sem a espontaneidade infantil. Era tudo muito baseado no Dó-Ré-Mi da Noviça Rebelde. Fora isso, havia os disquinhos com músicas, contos de fadas e historinhas, possíveis num contexto em que não havia videocassete, e as músicas de exaltação patriótica, próprias da época.

Os grupos infantis surgiram num momento de mudança desse paradigma. A Turma do Balão Mágico corporifica essa grande "revolução" infantil. A gravadora CBS copiou a fórmula do grupo mexicano Timbiriche, juntou ótimos talentos e fez as versões das músicas para o português, com Edgard Poças, um ótimo trabalho. A "revolução" foi literal: os adultos saem do comando, as músicas não mais são feitas para encaixar no padrão do que os pais e adultos esperam de comportamento para as crianças, mas para agradar diretamente as crianças. A Rede Globo, muito viva, levou o Balão Mágico para a TV. Com isso, o sucesso foi imediato, pois abriu-se um novo nicho de mercado para a indústria fonográfica.

Na esteira d'A Turma do Balão Mágico vieram os outros grupos, entre eles o Trem da Alegria.

Porque eles faziam tanto sucesso?

Porque as gravadoras souberam aproveitar o momento, que era favorável ao mercado infantil. Todo mundo queria cantar para crianças. A Globo fez os especiais Arca de Noé e Pirlimpimpim, com os artistas em destaque da época, composições de Toquinho e Vinícius e consagrou Aretha Marcos, a apresentadora. O SBT fez em 1984 o Festival Internacional da Criança, do qual saíram todos os integrantes do Trem da Alegria.

A música infantil, mesmo com a explosão do pop e do rock brasleiros, foram as que mais venderam na época. O Balão e o Trem venderam milhões, mesmo em época de extrema recessão, como em 1986, auge da crise do Plano Cruzado da era Sarney. Nesse ano o Trem da Alegria vendeu mais de um milhão de cópias da canção He-Man, acho que mais do que qualquer outro artista, com exceção do Roberto Carlos. Depois, veio a Xuxa e conseguiu vender mais de três milhões num só ano, estourando todos os recordes da indústria fonográfica do Brasil.

Além disso, as produções dos principais artistas infantis tinham muita qualidade. Arranjos bem produzidos, letras bem amarradas. Edgard Poças fazia ótimas versões das músicas mexicanas para o Balão Mágico, que começou a ter também algumas canções feitas por compositores brasileiros. No Trem, Michael Sullivan e Paulo Massadas, os maiores "hit makers" da época, eram responsáveis pela maioria das composições, que caíam direto no gosto da criançada. Eles souberam colar os interesses e o universo das crianças brasileiras com muita inteligência e oportunismo, assim, colocavam nas letras referências a jogos e brincadeiras típicas do Brasil e a heróis e personagens da televisão.

A maior prova do sucesso que a música infantil fazia era o interesse das gravadoras em colocar os principais artistas dos seus elencos para fazer participações especiais nos discos. Gal Costa, José Augusto, Lucinha Lins, Absyntho e Xuxa gravavam com o Trem. Com o Balão, Baby Consuelo, Erasmo Carlos e os Novos Baianos.

Mas o principal ponto para os grupos mais importantes (Balão e Trem) era o carisma de seus integrantes.

Você tem discos e outras relíquias do Trem?

Foram lançados nove discos, entre 1984 e 1992, um por ano. Tenho todos estes, e tenho também compactos e discos promocionais, que eram distribuídos às rádios para divulgação dos álbuns. Ao todo, tenho cerca de 25 discos do Trem.

Também tenho material gravado da televisão, que costumo editar e postar no YouTube, fotos, revistas e recortes de jornal.

O que você acha dessas bandas que influenciam as crianças atualmente? (Restart, Jonas Brothers, Justin Bieber, etc)

Nomes como Jonas Brothers e Justin Bieber são sinal da mudança provocada pela globalização. Os ídolos nacionais na música foram substituídos por artistas estrangeiros, de força econômica e de mídia muito maior. Nos anos 80 também havia ídolos estrangeiros, como o Menudo, mas havia um contraponto nacional. Agora, cada vez mais, não existe.

Quanto aos grupos nacionais como Restart e outros, é impossível comparar com os grupos infantis de vinte anos atrás. Acredito que possam ser comparados aos grupos mais pop como Dominó e Polegar, guardadas as proporções. O Trem da Alegria atacava uma faixa etária dos 6 aos 12 anos, mais ou menos, que não é o público desses grupos novos. No mundo de hoje, houve uma retração no mercado infantil e um inchaço do mercado adolescente. A música infantil é restrita às crianças pequenas, ainda na pré-escola, e depois disso há um vácuo. Por isso é que a garotada começa precocemente a gostar de certos grupos que não seriam adequados pela idade.

Aliás, a música para essa faixa etária "teen" é totalmente diferente do que era naquele tempo, por causa da liberalização dos costumes. No fim dos anos 80, Patricia ou Simony cantavam sobre paqueras de escola, um romance idealizado, quase tímido, ingênuo. Vinte anos depois, a Kelly Key cantava se gabando do ex-namorado que ela esnobava e que vinha "babar". Cada época tem seus ídolos e seu estilo.

Qual a maior diferença entre os grupos passados e presentes, e suas semelhanças?

Como eu disse, a música infantil atualmente não existe. Na contramão estão aquela dupla Vitor e Vitória e a Maísa, que lançou um CD muito bem produzido. Muitas pessoas comentam que as gravadoras deveriam voltar a investir nesse mercado, mas isso é impraticável. A indústria fonográfica não lucra mais para um investimento desse porte. Certamente, talentos infantis para cantar não faltam, mas não creio que haja compositores com a qualidade necessária hoje em dia. A própria gravadora do Trem da Alegria tentou relançar um grupo com esse nome, em 2001, e não deu certo.

Mercado, no entanto, há, e a prova disso é o sucesso que as músicas infantis dos anos 80 continuam fazendo com as crianças, mesmo sem nenhuma divulgação, apenas com a sua utilização por pais e professores na educação das crianças em casa e em festas e eventos escolares. Várias vezes recebo comentários no blog e nos vídeos que posto no YouTube de crianças dizendo-se fãs do Trem da Alegria, o que é muito recompensador.

NO AR: TREM DA ALEGRIA, UMA HISTÓRIA DE SUCESSO



CLIQUE AQUI E VEJA TODOS OS VÍDEOS DO TREM DA ALEGRIA DE NOSSO CANAL NO YOUTUBE

"Um abração e muito obrigado por essa iniciativa tão bela... esse resgate tão precioso em nossas vidas!!
Muito obrigado!!!"
LUCIANO NASSYN

"Poxa, que demais esse vídeo. Gostei bastante e matei saudade. Obrigado a todos!"
JUNINHO BILL
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...